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sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Carta Aberta sobre as Eleições de 2010

Amados irmãos,

Estamos nos aproximando de um momento ímpar para a nação brasileira: as eleições majoritárias, que ocorrerão no dia 03.10.10.

O momento exige que, como pastores e guias espirituais, façamos uma reflexão sobre esse momento tão especial. No passado, em favor da boa ética, sempre me eximi de abordar esse tema numa celebração dominical como estamos fazendo nesta noite. Talvez, trouxesse na memória traumas de experiências vividas anos atrás, quando, como pastor auxiliar, assumi uma posição de vanguarda, denunciando meu voto em partidos de esquerda e em políticos progressistas. Ou mesmo, por ter sido muitas vezes criticado injustamente, devido às pregações que denunciavam a injustiça e a desigualdade social, sendo confundidas por alguns, como se fossem discursos políticos de esquerda. Naquela altura, minha posição estava ligada à minha militância universitária de linha esquerdista e de uma incipiente visão do evangelho integral. Minhas posições, quase sempre contrárias à grande maioria do rebanho que pastoreava, trouxeram profundas e indeléveis marcas.

Meu pensamento é que o momento carece de uma profunda reflexão por parte da Igreja no que se refere ao momento político pelo qual estamos passando. Obviamente, como o termo “política” possui uma definição bastante complexa e abrangente, aqui, será utilizado simplesmente como a arte de guiar ou influenciar um modo de governo. Tentarei em minhas colocações ser imparcial, não denunciando minhas vertentes ideológicas e partidárias; não sei se conseguirei. Também não sei se serei visto como alguém que está usando o púlpito para fazer política. Sinceramente, hoje não tenho grandes preocupações em relação a isto. Somente sei de uma coisa: minha consciência e minha fé me direcionam para tal reflexão. O texto escrito a seguir é simples, mas, produzido com a alma e com o coração.

Nasci e me criei numa geração evangélica que se abstinha quase que totalmente de falar e de discutir política. Esta, só era discutida nos meios mais profundos da teologia academicista e por teólogos e pastores de linha progressista. Em alguns meios evangélicos, política era vista como obra maligna – crentes que assumissem uma posição de vanguarda, quase sempre eram discriminados e mal interpretados.

O tempo passou e a Igreja mudou. Aos poucos, os crentes foram entendendo que precisavam da política para a promoção de mudanças estruturais na nação. Que a política, em si não é má; mas, como todas as estruturas deste mundo caído, sofre também as terríveis conseqüências do pecado que degenerou a humanidade.

Assim, a Igreja passou a se interessar e a participar da política. Aquele medo desenfreado foi banido, os temores anteriores foram se esvanecendo, as discriminações foram aos poucos superadas; a tolerância no que se refere às posições ideológicas e partidárias foi amadurecida. A Igreja envolveu-se em debates políticos, passou a se preocupar com programas de governo, envolveu-se em manifestações políticas de interesse geral, elegeu representantes evangélicos; uma participação ativa e relevante se comparada aos anos anteriores, quando nossa participação era pífia e sem relevância. É óbvio que em alguns setores ainda existe resistência e relutância, mas, muita coisa mudou nesses últimos anos.

Em que pese a sujeira em que muitos evangélicos se envolveram (e ainda se envolvem), tanto aqueles que detêm mandatos públicos, como a própria comunidade evangélica em geral, que muitas vezes usam a política para troca de favores, conchavos, alianças de interesse pessoal, apropriação indébita, apadrinhamento, nepotismo, entre outras mazelas, compreendemos que a Igreja não deve se abster de um envolvimento político, sendo a política um excelente instituto para a promoção de mudanças, nas mais diversas áreas.

No último final de semana fomos profundamente impactados com a mensagem da Missão Integral, durante a IX Conferência Missionária da Nazasul, que teve como preletor o missionário Maurício Cunha (Visão Mundial). As verdades bíblicas proferidas ainda palpitam em nossos corações; e, espero que continuem a palpitar. Entendemos que o desejo de Deus é que seu Reino seja implantado em todos os lugares, em todas as esferas, em todas as estruturas, inclusive, na política. Creio que Deus pode usar a política para promoção do Seu Reino. Este Reino de Deus traz uma perspectiva de igualdade, justiça, solidariedade, fraternidade, segurança, crescimento, prosperidade, amor, paz, entre outras coisas. Não podemos esquecer que a Igreja é promotora do Reino de Deus. Ela foi colocada no mundo para ser “sal e luz”, e, desta forma, ela deve salgar e iluminar; senão ela pode ser alvo de uma ação punitiva de Deus (Mateus 5.13-16).

Nossa mente deve estar povoada com a verdade que a Igreja é uma Agência profética. Não esse profetismo tacanho que somente se prende a previsibilidade do futuro; mas, o profetismo que é poderoso em palavras e obras (Lucas 24.19). Um profetismo que denuncie as injustiças, desigualdades, mentiras, engodos, conchavos, imoralidade, roubos, entre tantas outras coisas, como faziam os profetas dos tempos bíblicos. As palavras do sábio Salomão devem estar impregnadas em nosso coração e mente: “Não havendo profecia, o povo se corrompe” (Provérbios 29.18a). Mas, que essa ação profética não fique somente na denúncia. Ela deve realizar, promover, participar, votar!

Ouso dizer que nosso voto pode se tornar um grande promotor do Reino de Deus, se votarmos na pessoa certa: que promova a igualdade e a justiça; que lute contra a imoralidade e a pornografia; que seja ético e que viva com decência. Talvez alguns possam estar pensando: porventura existe essa pessoa num meio tão corrompido e viciado? Não quero permitir que meu coração seja tomado de fatalismo, ceticismo e desesperança. Confio que Deus pode nos direcionar para pessoas comprometidas e sérias. Lembro-me de um antigo artigo do sociólogo evangélico Paul Freston, onde o mesmo dizia que tão importante como mandar um missionário para uma tribo indígena, era votar num senador sério e comprometido. O missionário com a mensagem do evangelho pode resgatar muitas vidas de índios para o Senhor, mas, o senador, com uma só ação, pode salvar toda uma tribo da extinção. Será que compreendemos a importância do nosso voto?

Tantas vezes, temos tratado com a Igreja do Senhor em como temos vivido “dias maus” (Efésios 5.15, 16). Em termos econômicos, avançamos muito nestes últimos anos. Na esfera social, houve considerável melhora. Contudo, a ética e a moralidade em nossa querida nação está em baixa. O pecado, seja moral ou social, corre solto pelas instituições, família e sociedade de um modo geral. Deparamo-nos tristemente com uma sociedade que convive com a pornografia, com a sensualidade, com todos os tipos de violência, com abusos, com o liberalismo, com a libertinagem, entre outros males. Uma sociedade que pouco a pouco, sorrateiramente, vai legitimando o que desagrada e é abominável aos olhos de Deus. Creio que as palavras do profeta Isaías se aplicam bem a realidade que vivemos hoje em nossa nação: “Ai dos que ao mal chamam bem e ao bem, mal; que fazem da escuridade luz e da luz, escuridade; põem o amargo como doce e o doce, como amargo!” (Isaías 5.20).

Lembro-me da fala de uma juíza de direito do Rio Grande do Sul, quando questionada por um repórter acerca da decisão de permitir a adoção de uma criança por um casal de homossexuais, disse: “apenas estou legitimando aquilo que a sociedade já legitimou”. Minha pergunta é: você legitimou isso? Será que temos compreendido esse caminho? A sociedade vive práticas desagradáveis aos olhos de Deus, que pouco a pouco vão se legitimando, vão sendo vistas e tidas como comuns. Segue-se o que é pior: devido às pressões de setores e lobbies liberais da sociedade civil e de vários segmentos políticos, tais práticas correm sérios riscos de serem legitimados legalmente.

Será que compreendemos a complexidade do momento que estamos vivendo? Os políticos que elegermos neste pleito irão se deparar com uma grande pressão de grupos e setores que têm em suas bandeiras de lutas, temas polêmicos e controversos, tais como: homofobia, aborto, descriminalização da maconha, entre outros. Não tenho nenhuma dúvida de que tais temas estarão na pauta de discussão dos políticos que irão nos representar neste próximo mandato. Será que temos percebido a importância de nosso voto neste pleito?

Este é um momento que exige oração, reflexão e coerência. Precisamos encarar nosso voto não apenas como instrumento de cidadania, o que de fato ele é; mas, no meu ponto de vista, ele transcende essa perspectiva: ele pode ser encarado como um bloqueador da legitimação daquilo que desagrada a Deus, e pode ser visto com um promotor da justiça e da moralidade.

Para finalizar, gostaria de elencar algumas orientações no que se refere a nossa postura como eleitor cristão. Espero que isto possa nos ajudar:

1 – Não vote em branco ou se abstenha do processo eleitoral. Pense em tudo que está em jogo nestas eleições;

2 – Procure conhecer os Programas de governo dos Partidos e Coligações;

3 – Procure conhecer as propostas de trabalho e plano de governos dos candidatos;

4 – Analise a vida geral do candidato. Veja sua vida moral, familiar, política. Procure saber sua postura em mandatos anteriores. Veja se ele não esteve envolvido em escândalos e/ou processos jurídicos;

5 – Esteja atento para os políticos demagogos e artificiais que prometem e não cumprem, e utilizam seu mandato em favor próprio e/ou de grandes grupos;

6 – Tenha cuidado com os Partidos artificiais e interesseiros que somente visam lucro para a agremiação e seus representantes;

7 – Tenha cuidado com julgamentos precipitados. Ao ouvir uma denúncia e/ou notícia procure conhecer a profundidade da mesma; veja se há fundamentação; de onde partiu; quem fez, etc;

8 – Tenha em mente que a promoção do Reino e o bem-estar geral estão acima de nossos interesses ideológicos e partidários, que muitas vezes defendemos com ardor. Se for necessário, abra mão deles em prol do Reino;

9 - Seja um eleitor fiscal. Denuncie irregularidades ao Ministério Público;

10 – Busque a Deus em oração, individual e coletivamente. Num momento como esse é mister que busquemos a Deus com toda intensidade e fervor. Seu Espírito nos guiará a toda verdade (João 16.13).

No Amor do Amado (Jesus),

Alcimar Laurentino dos Santos (*)

Pastor da Igreja do Nazareno – Zona Sul

(*) Este texto, embora produzido por minha pessoa, tem a ratificação dos pastores que hoje compõe o ministério pastoral da NAZASUL: Pastor Daniel Aurélio, Pastor Cláudio Marcelo e Pastor Celso Ricardo.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Em defesa dos Pequenos

Cada vez mais tenho me preocupado com a visão empresarial que os líderes de nossa geração têm dado aos negócios do Reino. Não que eu seja contra planejamentos, gestão, organização, projetos, etc. Mas, é preciso ter cuidado, senão podemos cair em desastrosos erros.
Algum tempo atrás, estava numa reunião de líderes, onde se discutia a plantação de novas igrejas, em novos campos. Fiquei surpreso com as frases que ouvi naquela reunião: “entrar pela porta da frente”, “alugar o melhor prédio da cidade”, “atingir as capitais e as grandes cidades”, entre outras. Entre os ouvintes das exposições, um dos líderes fez a seguinte colocação: “E quanto às cidades pequenas? No estado onde lidero são mais de 500 cidades pequenas; o que fazer com elas?”. Foram dadas algumas respostas evasivas e ponto final. O interesse era claro: grandes cidades, grandes igrejas, grandes e lucrativos rebanhos. Porque se preocupar com os pequenos?
Esta visão destoa do Evangelho do Senhor. Este é destinado a todos: grandes e pequenos. Não somente aos pequenos, não somente aos grandes. Aos grandes e também aos pequenos. Na verdade, os pequenos nunca foram olvidados pelo Senhor, nem no Antigo nem no Novo Testamento.
Quando insistimos em lançar nosso olhar meio que empresarial para os grandes centros urbanos, deixamos de lado uma grande massa populacional que vive nas pequenas cidades e vilas nesta nação-continente. E, consequentemente, muitas vidas deixam de ser alcançadas pela mensagem transformadora do Evangelho.
Obviamente, a opção em investir na plantação de igrejas em grandes centros, deve-se as facilidades encontradas: disponibilidade de obreiros, levantamento de parceiros, aquisição de bens, e, o retorno quase que totalmente garantido do investimento realizado, ou seja, a fundação de uma nova igreja local. Enquanto que nas pequenas cidades e vilas: nem sempre se tem obreiros disponíveis a encarar o desafio de viver longe dos grandes centros, os parceiros são escassos, e, não há garantias de que o trabalho chegue a uma organização formal de uma igreja. Mas, o que é pior: esse trabalho sempre será dependente de recursos oriundos dos grandes centros (de igrejas maiores); isto porque, devido ao pouco desenvolvimento destas cidades, os membros destas pequenas igrejas não possuem recursos suficientes para que ela possa alçar autonomia.
Como exemplo do que estou tratando, vejamos o exemplo do Rio Grande do Norte, estado onde resido e ora pastoreio. Dos 167 municípios do Estado, temos 14 com menos de 30 mil/hab, 34 com menos de 20 mil/hab, 56 com menos de 10 mil/hab e 51 municípios com menos de 5 mil/hab. Se eu for um líder ou pastor com um olhar meramente empresarial, e tiver como alvo cidades acima de 10 mil habitantes, cerca de 107 cidades norte-riograndenses estarão fora do meu alvo. Se meu alvo for ainda maior: cidades com população acima de 20 mil habitantes, cerca de 141 cidades estarão fora do meu foco.
Percebem a tragédia? Isto complica ainda mais quando sabemos que cerca de 31 municípios potiguares tem menos de 1% da sua população evangélica; e, que, na sua grande maioria, são municípios que se encaixam no perfil de pequenas cidades. E, assim, se a visão dos pastores e líderes das grandes igrejas nos grandes centros, for meramente empresarial, contemplando apenas os maiores centros, essas pequenas cidades jamais serão alcançadas plenamente.
Gostaria de repetir: não sou contra planejamento, estratégias, métodos, gestão, etc. No passado, no estado da Paraíba, até auxiliei a plantar uma igreja no interior, numa cidade considerada pólo, com o objetivo de alcançar as cidades próximas. Algo planejado estrategicamente. A estratégia usada foi: plantar uma igreja numa cidade pólo, mais desenvolvida, consolidá-la, e assim, atingir outras cidades menores próximas. Tenho visto outros pastores e líderes também utilizarem esta estratégia; mas, logo depois de consolidada a nova igreja, a visão de alcançar as cidades menores próximas é totalmente deixada de lado.
Minha preocupação é que, seduzidos pela visão empresarial, deixemos de contemplar estes campos que ora vicejam para uma grande e bela colheita; esquecendo-nos das pequenas cidades e vilas.
Gostaria de lançar um desafio aos pastores de grandes e medianas igrejas: contemplem as pequenas cidades e vilas, gerando em suas lideranças a consciência que, talvez, estes trabalhos sejam em definitivo mantidos pelo caixa da igreja mãe-plantadora, sem que seja necessária a manutenção de uma relação de submissão e subserviência. Ou seja, a igreja plantada, terá autonomia em seus negócios eclesiásticos, tanto administrativos quanto espirituais. Contudo, dependendo, em parte, dos recursos oriundos dos grandes centros. Digo “em parte”, porque, os poucos recursos que entrarem no caixa da igreja plantada servirá para auxiliar nos custos de manutenção.
Além disso, sugiro outras ações, a saber: a) que o pastor e esposa destas pequenas igrejas plantadas, possam buscar formação acadêmica, ou mesmo profissionalizante; e, assim, buscar um lugar no mercado de trabalho. Algumas prefeituras interioranas sempre estão à procura de bons profissionais. Neste caso, as igrejas mantenedoras poderão auxiliar na formação acadêmica dos obreiros enviados; b) que sejam elaborados projetos sociais, e, assim, se busque parceiros, tanto públicos como privados. Tais projetos, não somente abençoarão as comunidades locais, como também os obreiros, que, eventualmente, poderão retirar proventos dos serviços prestados. Também neste caso, as igrejas plantadoras, poderão auxiliar na elaboração e implementação dos projetos, tendo em vista que, grande parte dos futuros parceiros só investe naquilo que já está funcionando. Em ambos os casos, paulatinamente, a igreja plantadora poderá diminuir a aplicação de recursos, chegando, se assim for possível, a cessar definitivamente com a ajuda.
Meu objetivo não é chegar a uma solução simples diante do tema que abordei. Sei que este é um assunto complexo, exigindo maiores discussões. Apenas, desejei lançar uma luz, algo que nos leve à reflexão e uma discussão inicial.

Em Cristo,
Pastor Alcimar Laurentino dos Santos