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quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Evangelho do Sucesso


Confesso que não tenho assistido programas evangélicos na TV. Simplesmente a maioria dos programas, com algumas exceções, não tem muito a apresentar. Não é que eu tenha me tornado criterioso demais; simplesmente os programas não são bons.
No último sábado, enquanto aguardava o restante da família despertar para tomarmos o café juntos, resolvi ligar a TV e assistir algum programa evangélico. Triste decisão. A decepção foi grande e somente veio ratificar minha posição.
No programa, um conhecido tele-evangelista pregava com entusiasmo. Confesso-lhe que para mim foi (e é) muito difícil enquadrar sua exposição como uma pregação. Mais parecia uma brilhante palestra motivacional, e o tema era como chegar ao sucesso. As alusões ao texto bíblico eram escassas, e quanto colocadas, estavam fora do contexto e somente serviam para validar as posições do pregador (ou palestrante?). Deu-me vontade de chorar, acima de tudo porque o público presente vibrava com as frases de efeito proferidas. Pensei também nas milhares de pessoas que como eu estavam ouvindo aquilo (perdão por chamar a exposição de “aquilo”; não tenho outra palavra melhor) e que iriam absorver tais ensinamentos. Pensei comigo: se o apóstolo Paulo ouvisse aquela exposição, o que ele diria? Penso que o recado de Paulo seria aquele dado a igreja da Galácia, conforme registrado em Gálatas 1.8.
Para provocar mais indignação em minha pessoa, o pregador (pregador?) em destaque, para validar seus ensinamentos fez alusão a um anel que usava no valor de U$ 4 mil, e de um carro blindado de sua propriedade. Confesso que novamente fiquei com nó na garganta e meu peito apertou. A que ponto o evangelho chegou aqui no Brasil. Como compactuar com tal posição? Como chamar isto de evangelho? Como enquadrar isto numa pregação?
Enquanto milhares e milhares de pessoas nesta nação, inclusive muitos irmãos de fé, estão vivendo à míngua, reflexo de uma desigualdade social vergonhosa, um pastor usa a TV para se gabar de um anel de R$ 8 mil e de um carro blindado! Confesso que não tenho mais suportado a exposição deste evangelho medíocre, que pode ser tudo, menos o evangelho da Graça do Senhor. E, o pior: a meu ver, cada dia, mais e mais pessoas são atraídas para este evangelho espúrio. Evangelho do sucesso, evangelho do status, evangelho da prosperidade...
É preciso dar um basta nisso. É necessário que os profetas desta Nação abram sua boa e denunciem tais erros. É preciso ensinar ao povo de Deus que isto é uma grande falácia, que Deus não está neste negócio. Que o Senhor nos ajude nesta empreitada!

Soli scriptura!

sábado, 3 de março de 2012

Ouvir - Uma atividade pastoral extremamente importante


OUVIR - UMA ATIVIDADE PASTORAL EXTREMAMENTE IMPORTANTE

Ontem à tarde, a pedido de um congregado da Igreja que pastoreio, fui visitar seu pai, um ancião que está enfrentando uma luta contra um câncer. Minha visita tinha um objetivo muito específico: este homem, apesar de ter declarado a Jesus como Senhor e Salvador para o seu filho no meio da semana, numa crise de dores, queria fazer a mesma declaração a um ministro evangélico, e gostaria que esse ministro orasse por ele.
Foi uma tarde e um momento muito especial com aquele ancião. Mas, resolvi escrever estas linhas, porque depois da visita que fiz, comecei a refletir sobre a atividade que tinha feito. Foi muito bom estar ali para orar por aquele homem que entregara sua vida ao Senhor dos Senhores. Mas, também, foi muito importante estar ali para ouvir um pouco de sua história.
Ouvir as pessoas, ouvir as ovelhas; creio que este tem sido uma atividade que cada vez mais os pastores se afastam dela.
Nossas inúmeras atividades eclesiásticas (ou seriam religiosas?) tem roubado muito de nosso precioso tempo; e, penso que estamos paulatinamente deixando de fazer aquilo que inerente ao ministério pastoral: estar com as pessoas e ouvir suas histórias.
Aquele ancião, naquela tarde, queria também ser ouvido. Falou de sua infância, de sua juventude, de seu casamento (quando se emocionou várias vezes ao falar de sua falecida esposa), de seus filhos, de sua luta contra a doença. Era meticuloso nos detalhes, dizia as datas com precisão, falava com entusiasmo (apesar do cansaço) das lutas vivenciadas em sua trajetória. Muitas vezes, no decorrer de sua fala, ele chorou; mas, logo se recompunha e começava a falar novamente. Percebi que seus olhos brilhavam. Ele queria atenção.
Quando olho para o evangelho, percebo um Cristo que se move entre as pessoas, as vê e escuta suas histórias, seus dramas, suas frustrações e seus pecados. Um Cristo que ouve um paralítico moribundo, uma mulher adúltera, um publicano ladrão, que conversa noite adentro com um religioso interessado em espiritualidade, até em sua morte ele conversa com um ladrão na cruz, oferecendo-lhe perdão.
Conheço pastores que já não suportam ouvir suas ovelhas. Suas vozes e pedidos lhe soam como perturbação. São homens de negócios eclesiásticos, homens de gabinete, não tem tempo para tal atividade. Suas ovelhas gemem a espera de um ouvido. Como gostariam de um tempo junto aos seus pastores sendo ouvidas por eles...
Não desejo ser psicanalítico, mas, creio que há cura na verbalização. Quando falamos colocamos para fora muita coisa que pode estar fazendo mal à nossa alma. Como é importante poder compartilhar verbalmente nossas lutas e dores.
Nesta tarde com o ancião falei muito pouco. No final da conversa, quase um monólogo, fiz uma oração ratificando sua decisão em receber Jesus como Senhor e Salvador. Mas, percebi o quanto ele ficou satisfeito em poder ser ouvido. Oro a Deus para que em minha caminhada pastoral nunca perca a paixão de poder ouvir as pessoas, as ovelhas...

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Filhos: eles vêm, eles se vão...


Filhos: eles vêm, eles se vão...

O sábio Salomão no salmo 127 diz que filhos são herança do Senhor. Que coisa maravilhosa! Mas, ele vai mais além e diz que eles (os filhos) são como flechas nas mãos de um guerreiro. Por isso eram felizes os homens que enchiam deles (filhos) as suas aljavas.
Flechas são artefatos de combate que entesadas nos arcos são lançadas a grande distância pelo arqueiro. Pois, bem, geramos nossos filhos, criamos e educamos nossos filhos, mas, depois, entesamos nosso arco e os lançamos para a aventura da vida.
Deus, no seu infinito amor e graça nos concedeu (a mim e a Denise) duas filhas, que chamo de pérolas – Bianka e Lilian. É assim que as vejo: duas pérolas (pois é, antes de flechas, elas são pérolas). Duas bênçãos de Deus que vieram tornar o jardim do nosso lar mais florido e perfumado.  
Minha relação com Bibi e Lilinha (assim nós as chamamos carinhosamente desde pequenas) na infância, infelizmente, foi um pouco distante. Reconheço que fui um pai distante. Não digo ausente, mas distante. Os meus muitos afazeres profissionais e pastorais me distanciaram de minhas pérolas. Isto é algo que não perdôo. Gostaria de voltar no tempo e de aproveitar todos os momentos com minhas filhas com muita intensidade.
Quando elas estavam entrando na puberdade consegui me aproximar delas, pois neste tempo estava somente com o ministério pastoral (tinha deixado a carreira profissional). E, graças a Deus, creio que deu para recuperar um pouco do tempo perdido da infância. Conseguimos desenvolver uma relação de amizade transparente e sincera. Nossa relação sempre foi recheada de brincadeiras, conversas e amor sincero. E, deste modo, vi-as crescer, enfrentar suas dúvidas, lutas, angústias, e outros dramas, coisas inerentes àqueles que chegam à adolescência e à maturidade.
Denise, sempre foi uma supermãe. E, mesmo as meninas tendo atingido a maturidade, muitas e muitas vezes as tratavam como se fossem aquelas duas menininhas que carregávamos no colo. Contudo, sempre dizia a Denise: nossa função como pais é levá-las à maturidade, lhes repassando os valores indispensáveis para isto. E, creio que com todas nossas falhas, conseguimos fazer isto.
Bianka, como Denise diz, sempre foi meio “cigana”, “bandoleira”. Pelos dezessete/dezoito anos deu seu primeiro vôo solo quando foi estudar na JOCUM em Recife, onde permaneceu depois como missionária. Nosso “ninho” ficou meio vazio. Já foi uma grande luta, mas, ficou nosso passarozinho menor (em todos os sentidos, inclusive literalmente). Bibi voltou um tempo depois, ficou mais um tempo no ninho (creio que para se aquecer um pouco) e cerca de dois anos atrás, voou de novo, desta feita para Campinas, onde estuda e trabalha. Foi outra luta, pois apesar da experiência anterior, estávamos nos acostumando com ela no “ninho”. Mas, ainda estávamos com nosso passarozinho no ninho.
Mas, nosso passarozinho (pérola, flecha) se formou, e, Deus lhe abriu uma porta abençoada em nosso estado natal – Paraíba, precisamente na cidade de Bayeux (grande João Pessoa) para trabalhar na área de sua formação (serviço social) e para lá ela voou no último domingo, desta feita deixando nosso “ninho” totalmente vazio.
Esta tem sido uma experiência nova para mim e Denise – o ninho vazio. Nossos corações se enchem num misto de tristeza e alegria. Tristeza por não tê-las mais perto de nós (pelo menos fisicamente), mas, alegres por saber que elas estão seguindo o curso de suas vidas, voando com o legado que lhes passamos, quando eram pássaros indefesos.
Esta é a vida: filhos vêm e se vão. São presentes de Deus. São heranças do Senhor. Contudo, eles nos são dados para que lhes repassemos os valores necessários para suas caminhadas. Mas, eles são de Deus. São como flechas, atirados no mundo para frutificarem para a glória do Pai Eterno. 

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Quanta Futilidade!




                Queridões, confesso que estou me cansando com a tamanha futilidade e banalidade dos nossos dias. Creio que depois que tecer alguns comentários nestas poucas linhas, alguns me acusarão de “engessado”, “mal-humorado”, “sem senso de humor”, entre outras coisas, ou quem sabe, que eu levo as coisas muito a sério.
          De fato, tenho que concordar que durante minha vida sempre encarei com muita seriedade muitas coisas, às vezes até exagerando; mas, sempre gostei de curti a vida, e não me considero uma pessoa tão “engessada”. Contudo, confesso que tenho tido dificuldades de encarar o mundo fútil que tem nos cercado.
         Digo isto motivado principalmente por três grandes futilidades e banalidades dos nossos dias. A primeira é a famigerada música de um certo cantor Michel Teló – “Ai, se eu te pego”. A segunda é o suposto estupro de uma BBB por um colega de confinamento e a consequente expulsão do mesmo do programa. Finalmente, a terceira tem a ver com os desdobramentos de uma propaganda de uma tal “Luíza” que está no Canadá.
            De repente, três futilidades e banalidades tomam conta das mentes, dos espaços, das discussões, do tempo, das redes sociais de muita gente, como se fossem uma praga, uma epidemia. De um canto a outro, não se fala, não se comenta, não se discute, não se brinca com outra coisa a não ser estas três futilidades.
            Fútil significa: leviano, frívolo, vão, inútil, desprovido de valor e importância (dicionários Michaelis e Aurélio). Já a palavra banal tem por significado: trivial, comum, vulgar, sem originalidade (dicionários Michaelis e Aurélio). Pois é assim que vejo estas coisas: frívolas, desprovidas de originalidade, comuns, sem valor.
           Reflito sobre a quantidade de tempo perdido nas discussões, brincadeiras e conversas sobre estas coisas. Penso em como temos nos permitido sair do foco de assuntos importantes e relevantes para nossa cultura e sociedade; em como a nossa geração tem deixado os debates e as reflexões de lado, e tem permitido que uma cultura fútil e banal possa dominar seus pensamentos, atitudes e ações. Aos poucos (nem sei mais se é “aos poucos”), deixamos o que é prioritário de lado e nos permitimos seduzir por coisas sem valor, originalidade e relevância.
        Esquecemos facilmente o conselho paulino aos efésios: “Vede prudentemente como andais, não como néscios, e sim como sábios, remindo o tempo, porque os dias são maus. Por esta razão, não vos torneis insensatos, mas procurai compreender qual a vontade do Senhor” (Efésios 5.15-17). Uma melhor tradução para “remindo o tempo” talvez fosse “aproveitai as oportunidades”; aí pensamos: quanto tempo perdido com futilidades! Quantas oportunidades desperdiçadas! E, não nos esqueçamos: os dias são maus! Para aqueles que confessam a Cristo como Senhor de suas vidas, creio que bom seria meditar sobre as palavras do sábio apóstolo dos gentios também aos efésios: “Assim, eu lhes digo, e no Senhor insisto, que não vivam mais como os gentios, que vivem na futilidade dos seus pensamentos” (Efésios 4.17 – Versão NVI, grifo meu)
           Pois é, queridos, temos um grande desafio como filhos de Deus: não viver como os gentios, que no contexto do texto citado, vivem presas as futilidades dos seus pensamentos. Neste caso, seria bom voltarmo-nos para aquilo que Paulo aconselha aos filipenses: “Finalmente, irmãos, tudo o que for verdadeiro, tudo o que for nobre, tudo o que for correto, tudo o que for puro, tudo o que for amável, tudo o que for de boa fama, se houver algo de excelente ou digno de louvor, pensem nessas coisas”
(Filipenses 4:8
            Penso em quantos problemas estruturais ainda temos nesta nação: desigualdade social, pobreza extrema, corrupção avassaladora, falta de ética, etc., bem como no contexto da igreja evangélica brasileira, tais como: nominalismo, baixa espiritualidade, sincretismo, secularismo, etc, e ainda ficamos perdendo tempo com futilidades e banalidades? Queridos, não temos tempo a perder.
            Mais uma vez peço que não me tenha por “engessado” ou “desprovido de senso de humor”. Não, não sou assim. Somente não tenho tempo a perder com coisas fúteis e banais. Tenho muita coisa relevante em minha agenda.
            Ah, sim, deixe-me ainda acrescentar uma coisa: tem coisa melhor no espaço “secular” (embora eu não tenha tempo para ouvir, acrescento) além desse lixo cultural do Michel Teló e desses outros lixos culturais de um tal “sertanejo universitário” (isto é um tipo de música, ou um cara do sertão que passou no vestibular e entrou na universidade? Brincadeirinha...olha o senso de humor aí...