PENTECOSTES
“Todos
ficaram cheios do Espírito Santo...” Atos 2.4a
A Igreja Cristã ao redor do mundo
celebra neste domingo o Pentecostes, ocasião em que o Espírito Santo foi
derramado sobre os discípulos do Senhor Jesus Cristo, cinquenta dias após a
Páscoa.
É importante que olhemos para a
narrativa bíblica, conforme descrita pelo evangelista Lucas em Atos 2, não
apenas com o olhar histórico, mas com o olhar hermenêutico, buscando
compreender alguns elementos e ensinamentos espirituais que o evento nos traz.
Primeiramente, devemos compreender
que o evento demonstra o cumprimento da promessa do Senhor Jesus. Antes de sua
ascensão, o Senhor Jesus Cristo, ressurreto, tinha falado aos seus discípulos
que não se ausentassem de Jerusalém, pois eles seriam batizados com o Espírito
Santo (Atos 1.4-5); e, em Atos 1.8, temos a promessa da outorga de poder aos
discípulos para serem testemunhas do Senhor Jesus em todos os lugares.
Interessantemente, para o apóstolo Pedro, era a concretização da profecia de
Joel (conf. Atos 2.16ss).
Em segundo lugar, o Pentecostes
estava relacionado à concessão de poder. Isso está mais que claro em Atos 1.8:
“...recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo...”. A palavra ‘poder’, no original ‘dynamis’, tem o significado de poder
real, poder em ação; significa mais do que força ou capacidade, implica na
própria operação divina em ação. O Comentário Barnes diz: “A palavra ‘poder’ aqui se refere à ajuda ou auxílio
que o Espírito Santo concederia; o poder de falar em novas línguas; de pregar o
evangelho com grande efeito; de suportar grandes provações, etc.”[1]
Isso ficou bastante claro no próprio contexto de Atos 2, quando aqueles
discípulos, iletrados e incultos, testemunharam, noutro idioma que não conheciam.
Além disso, o apóstolo Pedro, cheio do poder do Espírito Santos, pregou um
sermão profundamente confrontador, ocorrendo milhares de conversões. Esse poder
é visto em todo o livro de Atos e em toda a história da Igreja Apostólica.
Em terceiro lugar, o derramamento
tinha um fim: o testemunho acerca do Senhor Jesus Cristo. Atos 1.8 também deixa
isso muito claro: “...e sereis minhas testemunhas...”. Claro que entendemos, à
luz da Palavra de Deus, que o Espírito Santo age para outros fins, mas, estamos
buscando fazer uma conexão entre Atos 1.4-8 e Atos 2. Aqueles discípulos seriam
cheios do Espírito Santo para que, com poder (vindo do Espírito Santo),
pudessem testemunhar com ousadia a respeito do Senhor Jesus Cristo ressurreto!
O comentário Esperança diz: “Ele (o Espírito) nos transforma em testemunhas. Conhecemos
o termo ‘testemunha’ do linguajar jurídico. Num processo jurídico são interrogadas
as testemunhas. Não lhes cabe externar sua opinião, nem relatar seus
pensamentos, mas – exatamente como fazem os apóstolos (Atos 4.20) – ‘falar das
coisas que viam e ouviram’. As testemunhas estabelecem o que aconteceu na
realidade”.[2]
Além do mais, convém lembrar que a palavra ‘testemunha’ vem do termo grego ‘martys’
(mártir, martírio), transmitindo a ideia de que esse testemunho que atinge o
coração é que conduz os mensageiros ao sofrimento, e ele somente pode ser
prestado mediante o sofrimento (Atos 9.16).[3]
À luz disso, que lições práticas a
Igreja de hoje pode tirar: 1 – O Senhor é cumpridor veraz de todas as suas
promessas: essa é uma grande verdade que não podemos abrir mão: o Senhor vela
para cumprir as suas promessas! Ele prometeu derramar Seu Espírito sobre seus
discípulos, e cumpriu! 2 – A Igreja necessita do poder do Espírito Santo. A
Igreja é um organismo antes de ser uma organização; a Igreja é o Corpo Vivo do
Senhor Jesus! Não podemos encarar a Igreja como se fosse uma empresa, uma ONG
ou qualquer agremiação. Precisamos compreender que necessitamos de poder e
direção do Espírito Santo para cumprirmos as ações e tarefas que temos pela
frente. Iludimo-nos quando tentamos fazer a Obra do Senhor somente dependendo
das nossas forças ou qualificações; precisamos do poder do Espírito Santo! 3 –
O poder do Espírito Santo nos leva a sermos autênticas testemunhas do Senhor:
Não deveríamos ousar testemunhar do Senhor Jesus sem o poder do Espírito Santo,
isso não acabará bem. A Igreja não tem mais a ousadia de outrora para
testemunhar do Senhor porque lhe falta o poder do Espírito Santo. O genuíno
testemunhar do Senhor Jesus Cristo pode redundar em sofrimento e perseguição;
essas coisas não dão muito ibope no atual movimento evangélico brasileiro.
Cabe-nos buscarmos o Senhor em
quebrantamento e contrição, rogando para que Ele derrame Seu Espírito Santo em
nós, enchendo-nos do Seu poder!
[1] Comentário
Barnes. Disponível em https://www.apologeta.com.br/atos-1-8/. Consulta em 26.05.2023.
[2] BOOR,
Werner de. Atos do Apóstolos. Comentário Esperança. Curitiba/PR: Editora
Evangélica Esperança, 2003, p. 15.
[3]
Id.