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quarta-feira, 26 de maio de 2010

Em defesa dos Pequenos

Cada vez mais tenho me preocupado com a visão empresarial que os líderes de nossa geração têm dado aos negócios do Reino. Não que eu seja contra planejamentos, gestão, organização, projetos, etc. Mas, é preciso ter cuidado, senão podemos cair em desastrosos erros.
Algum tempo atrás, estava numa reunião de líderes, onde se discutia a plantação de novas igrejas, em novos campos. Fiquei surpreso com as frases que ouvi naquela reunião: “entrar pela porta da frente”, “alugar o melhor prédio da cidade”, “atingir as capitais e as grandes cidades”, entre outras. Entre os ouvintes das exposições, um dos líderes fez a seguinte colocação: “E quanto às cidades pequenas? No estado onde lidero são mais de 500 cidades pequenas; o que fazer com elas?”. Foram dadas algumas respostas evasivas e ponto final. O interesse era claro: grandes cidades, grandes igrejas, grandes e lucrativos rebanhos. Porque se preocupar com os pequenos?
Esta visão destoa do Evangelho do Senhor. Este é destinado a todos: grandes e pequenos. Não somente aos pequenos, não somente aos grandes. Aos grandes e também aos pequenos. Na verdade, os pequenos nunca foram olvidados pelo Senhor, nem no Antigo nem no Novo Testamento.
Quando insistimos em lançar nosso olhar meio que empresarial para os grandes centros urbanos, deixamos de lado uma grande massa populacional que vive nas pequenas cidades e vilas nesta nação-continente. E, consequentemente, muitas vidas deixam de ser alcançadas pela mensagem transformadora do Evangelho.
Obviamente, a opção em investir na plantação de igrejas em grandes centros, deve-se as facilidades encontradas: disponibilidade de obreiros, levantamento de parceiros, aquisição de bens, e, o retorno quase que totalmente garantido do investimento realizado, ou seja, a fundação de uma nova igreja local. Enquanto que nas pequenas cidades e vilas: nem sempre se tem obreiros disponíveis a encarar o desafio de viver longe dos grandes centros, os parceiros são escassos, e, não há garantias de que o trabalho chegue a uma organização formal de uma igreja. Mas, o que é pior: esse trabalho sempre será dependente de recursos oriundos dos grandes centros (de igrejas maiores); isto porque, devido ao pouco desenvolvimento destas cidades, os membros destas pequenas igrejas não possuem recursos suficientes para que ela possa alçar autonomia.
Como exemplo do que estou tratando, vejamos o exemplo do Rio Grande do Norte, estado onde resido e ora pastoreio. Dos 167 municípios do Estado, temos 14 com menos de 30 mil/hab, 34 com menos de 20 mil/hab, 56 com menos de 10 mil/hab e 51 municípios com menos de 5 mil/hab. Se eu for um líder ou pastor com um olhar meramente empresarial, e tiver como alvo cidades acima de 10 mil habitantes, cerca de 107 cidades norte-riograndenses estarão fora do meu alvo. Se meu alvo for ainda maior: cidades com população acima de 20 mil habitantes, cerca de 141 cidades estarão fora do meu foco.
Percebem a tragédia? Isto complica ainda mais quando sabemos que cerca de 31 municípios potiguares tem menos de 1% da sua população evangélica; e, que, na sua grande maioria, são municípios que se encaixam no perfil de pequenas cidades. E, assim, se a visão dos pastores e líderes das grandes igrejas nos grandes centros, for meramente empresarial, contemplando apenas os maiores centros, essas pequenas cidades jamais serão alcançadas plenamente.
Gostaria de repetir: não sou contra planejamento, estratégias, métodos, gestão, etc. No passado, no estado da Paraíba, até auxiliei a plantar uma igreja no interior, numa cidade considerada pólo, com o objetivo de alcançar as cidades próximas. Algo planejado estrategicamente. A estratégia usada foi: plantar uma igreja numa cidade pólo, mais desenvolvida, consolidá-la, e assim, atingir outras cidades menores próximas. Tenho visto outros pastores e líderes também utilizarem esta estratégia; mas, logo depois de consolidada a nova igreja, a visão de alcançar as cidades menores próximas é totalmente deixada de lado.
Minha preocupação é que, seduzidos pela visão empresarial, deixemos de contemplar estes campos que ora vicejam para uma grande e bela colheita; esquecendo-nos das pequenas cidades e vilas.
Gostaria de lançar um desafio aos pastores de grandes e medianas igrejas: contemplem as pequenas cidades e vilas, gerando em suas lideranças a consciência que, talvez, estes trabalhos sejam em definitivo mantidos pelo caixa da igreja mãe-plantadora, sem que seja necessária a manutenção de uma relação de submissão e subserviência. Ou seja, a igreja plantada, terá autonomia em seus negócios eclesiásticos, tanto administrativos quanto espirituais. Contudo, dependendo, em parte, dos recursos oriundos dos grandes centros. Digo “em parte”, porque, os poucos recursos que entrarem no caixa da igreja plantada servirá para auxiliar nos custos de manutenção.
Além disso, sugiro outras ações, a saber: a) que o pastor e esposa destas pequenas igrejas plantadas, possam buscar formação acadêmica, ou mesmo profissionalizante; e, assim, buscar um lugar no mercado de trabalho. Algumas prefeituras interioranas sempre estão à procura de bons profissionais. Neste caso, as igrejas mantenedoras poderão auxiliar na formação acadêmica dos obreiros enviados; b) que sejam elaborados projetos sociais, e, assim, se busque parceiros, tanto públicos como privados. Tais projetos, não somente abençoarão as comunidades locais, como também os obreiros, que, eventualmente, poderão retirar proventos dos serviços prestados. Também neste caso, as igrejas plantadoras, poderão auxiliar na elaboração e implementação dos projetos, tendo em vista que, grande parte dos futuros parceiros só investe naquilo que já está funcionando. Em ambos os casos, paulatinamente, a igreja plantadora poderá diminuir a aplicação de recursos, chegando, se assim for possível, a cessar definitivamente com a ajuda.
Meu objetivo não é chegar a uma solução simples diante do tema que abordei. Sei que este é um assunto complexo, exigindo maiores discussões. Apenas, desejei lançar uma luz, algo que nos leve à reflexão e uma discussão inicial.

Em Cristo,
Pastor Alcimar Laurentino dos Santos