Temas

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

A Igreja Evangélica e a Corrupção

A Igreja Evangélica e a Corrupção

Não tenho escrito nas últimas semanas, embora deseje ardentemente. O corre-corre dos muitos afazeres ministeriais tem me impedido disto. Mas, o desejo pulsa no coração; ou seria nos dedos?

Bom, resolvi escrever algumas linhas sobre algo que tem incomodado meu coração nestes últimos meses – a corrupção brasileira. No último feriado, aconteceram manifestações em várias cidades brasileiras contra esta praga que se espalha por todos os lugares e contamina a tantos. As manifestações ainda são tímidas e opacas, reunindo pouca gente. Mas, pelo menos, em parte, a população brasileira começa a demonstrar que está cansando deste câncer terrível que se infiltra sorrateiramente em todas as instituições.

Se o silencio ainda toma conta da maioria da população brasileira, a igreja evangélica segue os passos da maioria da sociedade, ou seja, cala. Não vejo manifestações por parte dos evangélicos, não vejo pregações denunciando este mal, não vejo marchas, não vejo atos, etc. Interessante, a igreja evangélica consegue juntar milhares de pessoas nas Marchas para Jesus (sinceramente, não sei se Jesus precisa de marchas, e não vejo muito sentido e objetivo neste evento) em muitas cidades, mas, não se mobiliza para lutar e denunciar os terríveis males que assolam nossa querida Nação. Na verdade, a igreja evangélica tem se mostrado omissa.

A edição da Revista Veja nº 2240 (deixe-me logo dizer que não sou muito chegado a esta revista semanal; achou-a muito partidária, mas, ela tem sido uma ferramenta de denúncias dos desmandos da política brasileira) trouxe como reportagem de capa o tema da corrupção no Brasil, denunciando que R$ 85 bilhões foram surrupiados pelos corruptos brasileiros no último ano. Com esta grana, entre outras coisas, seria possível: erradicar a miséria no Brasil, construir 1,5 milhão de casas, construir 36.000 km de rodovias e custear 34 milhões de diárias de UTI nos melhores hospitais. Pois, é, enquanto estes ratos pilham nossos recursos (sim, nossos recursos), a saúde nesta Nação é um verdadeiro caos, a educação continua capengando e apesar de todos os programais sociais do Governo, a miséria ainda reina nas cidades e no campo.

A minha pergunta é: isto não traz indignação a comunidade evangélica brasileira? Parece-me que não. A mim me parece que a igreja evangélica brasileira tem outras prioridades, ou melhor, está muito preocupada com outras coisas. Ela está preocupada com grandes eventos, com grandes construções, em arrecadar muitos fundos para patrocinar o crescimento dos ministérios que competem entre si, em promover cruzeiros gospels, viagens à terra santa, em fazer a igreja crescer numericamente, etc. Com algumas poucas exceções, a maioria da igreja evangélica brasileira não tem se envolvido em questões de cunho político e social, ou pelo menos, não tem usado a sua voz como instrumento profético de denúncia. É importante lembrar nesta hora as palavras do sábio: “onde não há profecia, povo se corrompe” (Provérbios 29.18, edição Almeida Revisada). É óbvio que toda a corrupção não é culpa do silêncio da Igreja evangélica; mas, temos que concordar que, no geral e neste sentido, ela não tem cumprido seu papel a contento.

Creio que é interessante meditarmos nas palavras do profeta Miquéias: “Ouvi, peço-vos, ó chefes de Jacó, e vós, príncipes da casa de Israel; não é a vós que pertence saber o juízo? A vós que odiais o bem, e amais o mal, que arrancais a pele de cima deles, e a carne de cima dos seus ossos. E que comeis a carne do meu povo, e lhes arrancais a pele, e lhe esmiuçais os ossos, e os repartis como para a panela e como carne dentro do caldeirão (cap. 3.1-3, Edição Almeida Corrigida). Esta é uma poderosa denúncia de um profeta a nação de Israel no 8º século A.C. contra a injustiça social e a corrupção. Estas coisas são pecados, e Deus as abomina.

Está mais do que na hora da igreja evangélica brasileira rever a sua agenda, revisar as suas prioridades e motivações, voltar-se para aquilo que Deus está voltado, importar-se com aquilo que importa a Deus. Hoje, pela graça de Deus, a igreja evangélica é um grupo relevante neste país, com um número considerável de integrantes. Ela não pode se eximir deste problema, não pode se excluir deste debate. Precisa urgentemente romper seu silêncio, sair desta apatia e letargia e aliar-se às inúmeras instituições que sonham e lutam por um país mais ético e sério. Já passou da hora de darmos um basta nesta situação vergonhosa.

Nenhum comentário:

Postar um comentário