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terça-feira, 23 de maio de 2023

CORAÇÃO AQUECIDO

 Coração Aquecido

 

 

24 de maio é uma data lembrada dentro das Igrejas de origem wesleyana. Foi no dia 24 de maio de 1738 que John Wesley teve uma experiência que marcaria sua vida e a história da igreja cristã decisivamente.

Os irmãos John e Charles Wesley, tinham ido para uma obra missionária em outubro de 1735 nos EUA, precisamente na colônia inglesa da Georgia; nesta colônia ficou até dezembro de 1737. Os trabalhos na colônia não eram fáceis, mas, o maior problema de John Wesley se referia à sua própria vida espiritual. Seu diário registra a luta espiritual pelo qual passava o jovem anglicano: “Fui até a América do Norte a fim de converter os índios, mas quem me converterá a mim? Quem me livrará desse coração perverso e incrédulo? Tenho uma religião dos bons tempos; posso falar dela, posso mesmo crer nela, enquanto estou longe do perigo; porém, logo que a morte está diante do meu rosto, minha alma se abate. Não posso exclamar: Para mim a morte é lucro. Oh, quem me livrará desse medo da morte? O que farei? Onde irei escapar dela?”.[1] O relato do diário demonstra a profunda dúvida em relação à sua própria salvação. Leliévre diz: “...Wesley voltou da América do Norte oprimido e abatido; finalmente, tinha aprendido a conhecer-se a si mesmo, e descreve em seu diário com amarga eloquência essa fase de sua vida espiritual”.[2]

Retornando a Londres, Wesley buscou contato com a comunidade moraviana[3], a qual tinha conhecido na viagem de ida aos EUA, tendo sido bastante impactado com a fé pura, simples e genuína daquele grupo. Em fevereiro de 1738, Wesley começa encontros com o ministro moraviano Pedro Bohler, que o guiou ao conhecimento de uma fé viva e genuína. A peregrinação de John Wesley estava chegando ao final.

Deixemos que o próprio Wesley relate sua experiência: “Quase as cinco da manhã de quarta-feira, o dia vinte e quatro de maio de 1738, abri meu Novo Testamento e encontrei estas palavras: ‘Ele nos tem dado grandíssimas e preciosas promessas, para que por elas vos torneis participantes da natureza divina’ (I Pe 1.4)...À noite, fui, contra minha vontade, a uma pequena reunião na rua Aldersgate, onde ouvi a leitura do Prólogo de Lutero à Epístola de Paulo aos Romanos. Cerca de quinze para as nove, enquanto escutava a descrição feita da transformação que Deus opera no coração mediante a fé em Cristo, senti arder meu coração de modo estranho. Senti que confiava em Jesus, e nele somente, para minha salvação; recebi certeza de que o Senhor tinha apagado os meus pecados e Ele me havia salvado da lei do pecado e da morte”.[4]

Como falamos acima, essa experiência promoveu uma transformação radical na vida de John Wesley (seu irmão, Charles e seu grande amigo, George Whitefield, já tinha passado pela mesma experiência). A crise espiritual tinha ido embora. Do mesmo modo que Paulo, o fariseu, foi transformado, e Lutero, um fanático ritualista, tinha se convertido, Wesley teve a sua vida completamente transformada.

A transformação espiritual de John e Charles Wesley e de George Whitefield teve uma repercussão não apenas em suas vidas, mas em toda Inglaterra, nos EUA, e no mundo, pois, a partir desses jovens, iniciou-se um dos maiores movimentos da história da Igreja Cristã: o movimento wesleyano e o consequente Metodismo.

A Inglaterra do Século XVIII passava por profundas transformações políticas e sociais, sem falar da forte crise de espiritualidade cristã devido a frieza do Anglicanismo. Alguns estudiosos dizem que a Inglaterra, dada sua situação social e política, caminhava para uma convulsão social como ocorrida na França, e que não houve espaço para isso devido a influência do movimento wesleyano. O movimento wesleyano impactou a sociedade inglesa, e, posteriormente, a norte-americana.

Devemos refletir que essa não deve ser apenas uma data a ser lembrada por uma determinada tradição. Mas, observarmos que ela pode nos trazer vários aprendizados. Gostaria de destacar alguns pontos: 1 – Alguns podem confundir religiosidade com conversão: Wesley serviu vários anos como um piedoso crente, mas não tinha passado por uma genuína experiência de conversão. Quem conhece um pouco a minha história sabe que passei por algo parecido; nascido e criado na tradição reformada, por muito tempo vivi apenas como um religioso, sem uma experiência de conversão. Já na minha fase adulta, fui alcançado pela Graça de Deus; 2 – A conversão implica em mudança de vida: mesmo a vida de um religioso que cumpre cabalmente os ditames da religião, não se compara em nada a uma vida profundamente transformada pelo poder da Graça do Senhor. Não tem como: conversão implica em mudança total e radical de vida. A experiência de conversão mudou radicalmente a vida dos três jovens avivalistas; 3 – Deus usa cultos e pessoas simples: Deus usou com poder a John Wesley depois de sua conversão, mas, Wesley foi guiado em sua peregrinação espiritual por um simples ministro moraviano, Pedro Bohler; o erudito John Wesley, ouviu sobre as mais profundas verdades espirituais através de um simples ministro; 4 – Deus usa com poder aqueles que se colocam debaixo de Seus cuidados: após sua conversão, John Wesley, como vimos resumidamente, foi poderosamente usado por Deus, liderando um poderoso avivamento na Inglaterra e EUA. No final de seus dias, Wesley tinha andado cerca de 322 mil kms a cavalo pela Inglaterra, Escócia e Irlanda, pregado cerca de 42 mil sermões, escrito cerca de 200 trabalhos, além de ter liderado e organizado o movimento wesleyano. Do mesmo modo que John Wesley foi poderosamente usado por Deus, qualquer um de nós também pode ser usado por Ele, se nos colocarmos totalmente ao Seu serviço e aos Seus cuidados.

Celebremos essa data com o coração aquecido pela Presença do Espírito Santo, nesta semana em que também se comemora o Pentecoste! Ao Senhor seja a glória e o louvor!!

 

 



[1] Works, Tomo I, p. 23 apud LELIÉVRE, Mateo. João Wesley: Sua vida e Obra. Traduzido por Gordon Chown. São Paulo: Editora Vida, 1997, p. 61.

[2] LELIÉVRE, Mateo. João Wesley: Sua vida e Obra. Traduzido por Gordon Chown. São Paulo: Editora Vida, 1997, p. 62.

[3] Os livros que tratam da História da Igreja Cristã sempre dedicam uma parte a história dos Morávios, mas gostaria de indicar: A Saga dos Irmãos Morávios, de Antonio LUIZ Rocha Pirola, e Avivamento Morávio, de Rafael Moreh.

[4] Works, Tomo I, p. 103 apud LELIÉVRE, Mateo. João Wesley: Sua vida e Obra. Traduzido por Gordon Chown. São Paulo: Editora Vida, 1997, p. 66.

 

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